Por Vicente Freitas — Postado em 27 de Jan de 2024.
No Catecismo da Igreja Católica, há uma parte muito importante dedicada ao
mundo invisível (cf. § 325–354), mencionado no Credo (“todas as coisas visíveis e
invisíveis”).
Deus é bom, por Deus ser bom, ele criou o universo, porque é bom….
Os anjos foram criados do nada por Deus, “em Cristo”, para o serviço d’Ele e da Igreja; prestando esse
serviço em louvor e adoração constantes a Ele e auxiliando o homem de diversas formas. Quando, por um ato de
sua livre vontade, o Senhor Deus resolveu iniciar a criação, Ele o fez de duas formas, ou seja, dividiu sua
criação em duas: a criação visível e a criação invisível.
A criação visível de Deus é composta de tudo quanto os nossos olhos podem alcançar, ou melhor, tudo que os
nossos sentidos percebem. Já a criação invisível é retrato do próprio Deus que se faz visível por suas
obras, mas é de natureza invisível.
A criação invisível de Deus é que, na realidade, une e coordena toda a natureza. Essa criação é superpovoada
por seres espirituais que têm por nome: Anjos. A palavra “anjo” tem um significado de mensageiro, enviado,
emissário de Deus. Eles existem por um ato da vontade de Deus que os tirou do nada e os trouxe à
existência.
Os Anjos de Deus são seres brilhantes e resplandecentes dos quais emana luz e são um espelho da glória de
Deus. São seres poderosos diante do trono, sua luz intensa irradia energia porque Deus, a fonte da luz, tem
pleno domínio sobre Eles.
A Tradição Católica acredita que, o número de anjos criados por Deus é muito superior ao número de homens
criados, visto que, cada homem, desde Adão até o último que aparecer na Terra, tem um Anjo de Guarda
diferente. A Escritura fala de milhares de milhões (Dn 7,10), de miríades (Hb 12,22).
Nossos anjos da guarda não devem executar nossos desejos, mas realizar a vontade de Deus
para nós, fazer que desejemos o que Deus quer para nós.
Paraíso perdido: queda dos anjos rebeldes, · Gustave Dore.
A pergunta que deve ser formulada em seguida é o que teria acontecido para que Lúcifer, um anjo bom,
tenha decidido virar as costas para Deus e se tornar Satanás/Diabo. O Catecismo fala de uma
desobediência angélica, de um pecado cometido por ele, que originou a Queda propriamente dita. Ele e os
demais anjos que pecaram não foram poupados por Deus: “Com efeito, Deus não poupou os anjos que pecaram,
mas lançou-os nos abismos tenebrosos do Tártaro, onde estão guardados à espera do Julgamento”.
(2 Pe 2, 4).
Se houve um tempo em que os anjos não haviam pecado e um tempo após o pecado, é possível dizer que os anjos
viveram num espaço de tempo. Esse tempo é um tempo angélico, diferente do tempo como concebido pelo
homem.
Nesse espaço de tempo anterior ao pecado, estima-se que Deus não havia se mostrado completamente aos anjos.
O pecado só pode ocorrer quando não se vê a Deus, que é a verdade fulgurante, o sumo bem e cuja face é tão
atraente e irresistível que o conceito de pecado não pode se aproximar. Assim, os anjos não tinham visto a
Deus antes de pecarem. Apesar disso, os anjos são puros espírito e foram dotados com dons superiores aos
concedidos aos homens, conforme já estudado. Eles tinham pleno conhecimento e entendimento. O que teria
motivado, então, a desobediência deles? Santo Tomás sugere que Deus lhes revelou o plano de salvação dos homens, ou seja, que Jesus
haveria de encarnar-se no seio de uma virgem, viver de forma humana e morrer na cruz. Tal plano teria sido
encarado como absurdo, dado a majestade divina frente à pequenez humana. Lúcifer teria se recusado a servir
o Deus Encarnado e convencido, por meio de mentiras, outros anjos. Isso teria motivado o “não
servirei” proferido por ele e que precipitou a batalha narrada em Apocalipse.
Pelo fato de serem espíritos puros, a desobediência revestiu-se de radicalidade e de irrevogabilidade, ou
seja, não há retorno para Satanás e seus demônios. Além disso, eles foram tomados por um ódio extremo contra
Deus e contra os homens. O plano, então, é destruir a criação, não só instigando a morte física, mas,
principalmente, a morte espiritual, a perdição da alma.
Se os anjos não possuem corpos, são puro espírito, como se deu a batalha descrita no Livro do Apocalipse?
Santo Tomás diz que a espada flamejante de São Miguel Arcanjo é a Palavra de Deus e que a batalha se deu no
campo das ideias. A luta foi espiritual, mas, nem por isso, menos sangrenta. A teologia diz que ambos os
lados tiveram perdas. Pela Palavra, muitos anjos que estavam no caminho para a desobediência foram salvos e,
pela mentira de Satanás, cujo apelido é “o pai da mentira”, muitos anjos desobedeceram a Deus, perdendo-se
para sempre. Há um certo sentido na afirmação de que a batalha deu-se no campo das ideias, pois é só o que
Satanás pode oferecer: ideias. Com elas, ele tenta e consegue levar os homens ao pecado.
Uma coisa que costumamos esquecer é que os anjos fazem parte da comunhão dos santos. No céu, eles
participam da alegria da visão de Deus.
Eles estão unidos a Deus e, portanto, desejam o que Deus deseja: a nossa salvação. Eles querem que os seres
humanos se santifiquem. Assim, os anjos da guarda estão, por amor, a serviço do homem para o guiar no
caminho que o conduz a Deus.
Nesta hierarquia, os anjos mais elevados, os querubins e serafins, são os que estão mais voltados para a
adoração a Deus. Todos os anjos adoram a Deus, mas alguns deles estão mais dedicados a isso. Os outros
anjos, que estão mais próximos do mundo material, são enviados por Deus para ajudar os seres humanos na
terra. A categoria “mais baixa” — se é que posso usar esse termo, considerando que são infinitamente
superiores a nós — são os simples anjos. E logo acima estão os arcanjos, que têm missões importantes no que
diz respeito à história da humanidade. Foi, por exemplo, o arcanjo Gabriel quem anunciou a boa-nova da
Encarnação a Maria. Essas categorias nunca foram formalmente definidas pela Igreja, mas fazem parte de uma
venerável tradição. Então, digamos que os arcanjos estão acima dos anjos da guarda, como um general está
acima de um soldado.
A beleza individual dos anjos reflete a diversidade e a perfeição de suas naturezas. Cada anjo é único em
sua criação e propósito, refletindo a grandeza de Deus em sua variedade e singularidade. A hierarquia
angelical, por sua vez, destaca a ordem e a organização no serviço a Deus.
Deus sabe tudo sobre sua criação, o seu tempo rege diferente, esse saber não em sua criação que cai sobre
predestinação, mas algo que os rege, há um conceito de liberdade, Deus sabe muito bem o que irá ou não
acontecer, porém, temos a escolha movidas pelas vontades assim como os anjos, mas também o livro arbítrio,
que rege sobre a misericórdia infinita do Pai celestial.
Agora sabendo disso, coloco os anjos, eles são seres movidos por vontade, e quando Lúcifer se rebelou contra
Deus, e os anjos que se uniu a ele, nunca serão perdoados!!!
Como Deus os revelou tudo por amor, eles deixam de ser ignorantes.
Que poder os anjos têm, em suas ações, sobre os anjos decaídos?
Eles têm o poder de cumprir as ordens de Deus contra os demônios. Portanto, seu poder sobre os demônios
depende do poder de Deus sobre os demônios. Deus permite que o diabo faça coisas que podem, de alguma forma,
ser boas para uma pessoa. Por exemplo, Ele pode deixar um demônio nos tentar para nos tornar mais
fortes, para nos tornar capazes de mostrar mais caridade em nossa vida, para crescer
espiritualmente. Entretanto, Deus também pode prevenir algumas ações demoníacas porque isso atrapalharia seu
plano, e os anjos sempre realizam a sua vontade. Portanto, eles são capazes de prevenir algumas ações dos
demônios contra os seres humanos.
Santo Tomás de Aquino costumava dizer que um anjo da guarda é atribuído a cada criatura humana desde a sua
concepção, a fim de evitar os perigos que vêm dos demônios, que obviamente desejam a morte dos
homens.
Qual é o poder de intercessão específico dos anjos, em comparação com o dos santos?
Eles têm o mesmo poder. Os anjos, precisamente porque pertencem à comunhão dos santos, rogam por nós. É por
isso que os invocamos durante a Ladainha de Todos os Santos, e até começamos com eles, depois da Virgem
Maria.
Acho que nosso ensino sobre os anjos não deve ocupar o centro das atenções, mas é importante, pois nos
lembra a dimensão espiritual da existência.
O simples fato de pensar em um mundo angelical, que é um mundo puramente espiritual, seria uma boa maneira
de lutar contra o materialismo subjacente do mundo e fazer as pessoas entenderem que não existem apenas
realidades materiais. A pregação sobre os anjos nos dá uma ideia maior e mais bela de Deus, como recorda a
Liturgia dos Santos Anjos. Na verdade, o prefácio diz: “É a vós que glorificamos, ao louvarmos os anjos, que
criastes e que foram dignos do vosso amor. A admiração que eles merecem nos mostra como sois grande e como
deveis ser amado acima de todas as criaturas”.
A lição mais importante dessa batalha para o ser humano é que Deus envia a cada um a sua graça, desejando
ardentemente que, livremente, o homem escolha amá-lo. Porém, essa chance encerra-se com a
morte, quando então o destino do homem é selado para toda a eternidade.
Cada homem é livre para escolher de que lado ficará.